PERDÃO, LEONARD PEACOCK, de Matthew Quick

Há, nos E.U.A,
… O dia em que Leonard decidiu que seria o seu último!
… Uma pistola nazista sobre a mesa da cozinha ao lado de uma tigela de mingau de aveia;

Assim, Leonard Peacock escolheu morrer em seu aniversário… E levar seu ex-amigo consigo!

Leonard sabe que aquele é o dia final. No dia de seu aniversário, ele decide matar seu ex-melhor amigo e, logo em seguida, se matar usando uma arma nazista, uma P-38, de seu avô. No entanto, antes de partir, ele precisa se despedir de seus outros quatro amigos: ao final daquele dia, ele pretende estar morto.
As quatro pessoas mais importantes de sua vida serão visitadas naquele dia – cada uma receberá um presente para que se lembre dele – e, conforme os encontros vão acontecendo, o segredos de cada um vão sendo revelados, bem como a grande questão do livro:

“Além da P-38, há outros quatro embrulhos, um para cada um dos meus amigos. Quero me despedir deles adequadamente. Quero dar para cada um algo que os faça se lembrar de mim, para que saibam que eu realmente me preocupo com eles e que lamento não ter sido mais do que fui – não poder ter continuado por perto -, e que o que acontecerá hoje não é culpa deles.”

Por qual motivo Leonard pretende matar seu ex-amigo?
E, talvez mais importante ainda, o que o levou decidir por fim na própria vida?
Matthew Quick, também autor de O Lado bom da vida (2008) que já virou filme – a versão cinematográfica recebeu o Oscar de Melhor Atriz em 2013, com a interpretação da personagem Tiffany por Jennifer Lawrence –, dá vida a um garoto instável. Leonard é um exemplo de adolescente que se julga conhecedor de Todas-As-Verdades-de-Universo e que, por isso, pode julgá-lo, sacudindo o dedo diante do rosto das pessoas. Há, no entanto, bastante dor em suas ações. Ele parece ser alguém que implora por uma saída melhor, mas que, talvez por seu pouco conhecimento sobre a vida e sobre si mesmo, suas limitações e sentimentos, encontra no suicídio a sua linha de regra.
Torna-se quase impossível não se lembrar de Holden, personagens do brilhante O Apanhador No Campo de Centeio (1945), de J. D. Salinger. Em “O apanhador”, Holden encontra-se irado. Irado com seus colegas no colégio interno, com suas família, com seus professores e, mais ainda, com o mundo que mais lhe parece ser uma máquina de tortura onde, inevitavelmente, todos iremos um dia cair. Ao longo do romance ele sonha o tempo todo com algo melhor, que aplaque sua ira, mesmo não sentindo que isso seja possível. Holden é, mais do que um simples garoto, o retrato de uma sociedade que cansou de ser máquina, porém continua por ser preciso continuar. Uma sociedade mesquinha, traiçoeira e repleta de vicissitudes torpes que não lhes faz bem algum.
Como Holden, Leonard está cansado. Vemos muito disso nos comentários feitos por ele mesmo nas notas de rodapé, entre as páginas. Muitos destes carregados de sarcasmo e ironia sobre aqueles que o cercam.
Matthew nos apresenta o que se passa na mente de Leonard logo na citação inicial do romance: Hamlet, de Shakespeare:

“Eu te peço, tira teus dedos da minha garganta;
Pois embora eu não seja raivoso ou violento,
Tenho em mim alguma coisa perigosa,
Que tua sabedoria fará bem em respeitar.
Tire as tuas mãos!"

No romance, Leonard é o garoto que escolheu aquele como sendo seu último dia de vida. Para nós, leitores, isso abre uma lacuna imensa em nossas mentes, uma janela de possibilidades e caminhos que a narrativa pode seguir diante desta decisão: por ser seu último dia (e ponto!), Leonard pode fazer o que quiser. Vemos aí a falta de previsibilidade que é ótima em qualquer história. Não sabemos sobre nada. Não conhecemos Leonard ainda e, por isso, não sabemos quais ações absurdas ele estará disposto a fazer, sem que com isso tenha que se preocupar com suas consequências. É justamente o medo das consequências que nos estagna. Leonard está livre de uma das principais amarras humanas: ele não precisa temer!
A leitura, em muitos momentos, torna-se arrastada. Isso ocorre sempre que temos que parar a leitura, a sequência dos fatos, para lermos as explicações sobre o rodapé. Isso acaba por nos obrigar a voltarmos a leitura algumas vezes para seguirmos no gancho da cena descrita.
Conformo lemos, tomamos partido sobre a decisão de Leonard: Afinal, existiria motivo para extrair a própria vida?
Leonard nos apresenta uma resposta ao final. Ele age, respondendo. A SUA resposta...

Então a gente fecha o livro e pensa...
Pensa...
Pensa...
...


por Luvanor N. Alves
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