O caos se instala nos Sete Reinos após os últimos
acontecimentos de A Guerra dos Tronos.
Esqueçam tudo que sabem ou achavam ter ciência sobre os personagens e suas
histórias no primeiro volume de As
Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin. A Fúria dos Reis não nos traz a ira desenfreada dos novos líderes nas
regiões de Westeros. – Deixem as batalhas um pouco de lado. Neste livro, o
leitor irá se deparar com vários e novos esquemas de estratégias políticas e sobrevivência,
além do sutil crescimento do sobrenatural, já vagamente explorado na obra
anterior.
Agora que o reino está sob o domínio do ‘herdeiro’
do Rei Robert, Joffrey Baratheon, a desordem na sociedade passa a tomar conta de
Porto Real e demais territórios do continente. Insatisfeitos com as atitudes e
decisões da família do mimado e cruel governante adolescente, nobres se
proclamam reis e declaram guerra, provocando uns aos outros a darem início a
seus planos de conquista e vingança.
Em Pedra do Dragão, o irmão mais velho de Robert,
Stannis Baratheon, alia-se a sacerdotisa Melisandre, uma misteriosa feiticeira
devota a uma religião cuja doutrina vai contra os preceitos do ex-contrabandista,
Davos Seaworth, fiel aliado de seu Lorde. A relação de fé e descrença
envolvendo esses três personagens mergulha o leitor no aspecto sombrio das convicções
religiosas da história. Há limites na busca pelo poder?
Por outro lado, o irmão mais novo de Stannis, Renly
Baratheon, se considera mais qualificado ao Trono de Ferro, mesmo distante na
sucessão da família. O carismático Baratheon une-se ao clã Tyrell na intenção
de crescer seu exército para derrubar o desafeto irmão e derrotar os aliados da
Casa Lannister, regidos pela Rainha Cersei.
Robb Stark - filho mais velho de Ned Stark - agora
é Rei do Norte, proclamado por seus vassalos.
Em Pyke, Balon Greyjoy se declara dono das Ilhas de
Ferro e planeja vingança contra aqueles que considera serem seus inimigos.
Quem também entra em ascensão se preparando para
cruzar o Mar Estreito e chegar a Westeros para reivindicar seus direitos junto de
dragões é Daenerys, a última sobrevivente conhecida da dinastia Targaryen.
São 656 páginas que podem ser resumidas na guerra
entre os reis, quebras e formação de alianças, lealdade, crenças, poder e
sobrevivência. George R.R. Martin volta a surpreender com sua obra carregada de
informações que levam o leitor a questionar tudo o que está acontecendo.
Por mais que A
Fúria dos Reis tenha um ritmo de enredo mais lento que o livro anterior, conseguimos
apreciar o quebra-cabeça esquematizado pelo autor graças a sua escrita
envolvente.
O esquema de pontos de vista dos personagens
torna-se cada vez mais interessante. Passamos a ter uma visão do que está
ocorrendo nas regiões dos Sete Reinos com os ‘narradores’ testemunhando os
acontecimentos de forma subjetiva. Nesse sentido, Martin apela mais ao fator da
curiosidade. O mesmo personagem não é portador de toda informação em seu foco narrativo.
O leitor, muitas vezes, entende o que está se passando no enredo através de outro
capítulo; seja por meio de uma frase, um sonho, uma canção ou uma história
antiga de algum outro personagem, nada é por acaso.
Como de praxe na maioria de grandes obras
literárias, os escritores trazem inspirações de histórias conhecidas. Embora
muitos prefiram afirmar que George R.R. Martin bebeu da fonte de Tolkien
(Senhor dos Anéis) ao criar sua saga - e há até quem cite Bernard Cornwell para
somar e comparar a grandeza no sucesso dos livros de Martin –, fontes
históricas mostram que a inspiração do criador das crônicas de gelo e fogo passa
a contar com sua parcela de realismo maior do que se imagina. É o caso, por exemplo,
da Muralha do imperador romano Públio Élio Trajano Adriano, localizada na
fronteira entre Inglaterra e Escócia. O objetivo da fortificação de pedra e
madeira era simples: separar a civilização romana dos ‘bárbaros’ escoceses.
Algo similar ocorre na divisão entre os moradores de Westeros e Selvagens que
vivem para lá da Muralha de Gelo.
Outra curiosidade do histórico fantástico de ‘tio
George’ paralelo à realidade, está na Batalha da Água Negra que ocorre no
livro. Sabemos que graças à perspicácia de Tyrion Lannister, atual Mão do Rei
na corte, o ataque das frotas de Stannis e Davos contou com uma ‘ardente’
surpresa. Durante o século 8, as consequências do Segundo Cerco Árabe de
Constantionopla foram as mesmas apresentadas em A Fúria dos Reis. Martin já revelou em várias ocasiões que muitas
das guerras e conflitos de seu Mundo
Conhecido remontam grandes
acontecimentos na história medieval da Grã-Betanha. Muitos chegam a afirmar,
inclusive, que As Crônicas de Gelo e Fogo são inspiradas na Guerra
das Rosas, livro do escritor britânico Conn Iggulden, que narra a história real de uma
série de lutas dinásticas pelo trono da Inglaterra, ocorridas ao longo
de trinta anos.
Apesar destas e outras comparações, a história de
Martin, que é sim um declarado fã de Tolkien, em pouco se iguala com a de qualquer
um destes escritores. Quem já leu os dois primeiros livros das ‘crônicas’ sabe
que mesmo que a essência da literatura fantástica e mitológica seja a mesma em
qualquer história do gênero, os propósitos não são semelhantes. E se tratando
de encantar e surpreender, o pai do Mundo de Gelo e Fogo é um espanto!
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