O PACTO – O Amaldiçoado, de Joe Hill


Há, nos E.U.A,
... Ig sempre sendo um homem bom:
Com Merrin, a namorada perfeita!
O irmão perfeito!
O amigo perfeito!

Até que a chuva chega...
E Merrin é assassinada!

Ig cai… e acorda:
Sendo o principal suspeito…
e com pontas de chifres rasgando a pele de sua testa à lhe trazer a verdade!

Ignatius Perrish sempre foi o cara perfeito. E tudo que estava ao seu redor parecia igualmente “estável e bem, obrigado!”. Ele tem Merrin ao seu lado com seus cabelos de fogo e um sorriso único. Mas, como herdeiros das tragédias de Shakespeare, personagem algum da literatura sobrevive muito tempo sem sua dose excessiva de azar: Merrin é estuprada e morta. E Ig… O principal suspeito do crime. A partir daí, o conto de Ignatius se desfaz como um castelo de pedra demolido pela mais demoníaca besta. Não há nada que o incrimine, muito menos existe como provar sua inocência. Então todos na cidade, e a imprensa local, desenterram o antiga “Coisa” do Frankenstein de Mary Shelley: Ig passa a ser perseguido e apontado nas ruas como o monstro que desfez a vida da “menina Merrin”.
Então, um ano depois, com as investigações estagnadas, Ig desperta: sujo, bêbado… e com, LITERALMENTE, um par de chifres brotando-lhe da testa.
Somente aí o lado diabólico do autor Joe Hill, neste seu segundo romance, desperta. Ninguém consegue ver as protuberâncias encimando os olhos de Ig.  Longe disso! Como se movidos por um tipo de transe sobrenatural, cada uma das pessoas que cruzam o caminho de Ignatius, ao verem seu rosto, passam a revelar seus maiores segredos.
Taras…
Vícios…
Desejos…
Manias…
VERDADES…
Todos começam a falar o que pensam sobre Ig e suas vidas. Ignatius vê que tem em mãos exatamente o que precisava: o método de descobrir quem matou Merrin. Então ele corre… realiza todo o trajeto ao longo da cidade, buscando confrontar aqueles que, para ele, possam ter tido motivos para mata-la. E a trama se adensa à medida que ele interroga um a um e os segredos são revelados... Mas existe um “porém” em tudo isso: Ig não se lembra do que estava fazendo quando Merrin foi morta. Ele simplesmente “apagou”. E, nós leitores nos questionamos:
O que acontecerá quando Ig se olhar no espelho?
Então, ele se faz a mesma pergunta…
Joe Hill dá um novo fôlego ao que acontece quando brincamos, sem perceber, com as Trevas. Quase uma releitura da peça Faust (1589), do dramaturgo inglês Christopher Marlowe, onde conhecemos o desiludido Dr. Fausto que faz um pacto com o demônio Mefistófeles, em que negocia viver vinte e quatro anos sem envelhecer, assinando o contrato com seu sangue. Para firmar o contrato, Fausto negocia em troca sua própria alma.
Ignatius, no entanto, não realiza o pacto propriamente dito. Em determinado momento da narrativa, ele conta sobre uma casa da árvore perdida na floresta. Nesse lugar, o leitor esperto compreende os objetos que contribuíram para que Ig se encontre com os chifres e possa realizar o seu principal desejo: saber a verdade sobre o que aconteceu com Merrin.
O Pacto (Horns, no título original em inglês), apresenta o progresso narrativo de Joe Hill. A construção fraca de enredo ficou para trás em A estrada da Noite (2007), indo se consolidar em Nosferatu (obra já resenhada pelo Marcador Expresso).
É doloroso acompanhar e descobrir as verdades junto com Ig. Mas sentimos ser necessário e por isso continuamos ávidos até o fim. A narrativa flui de modo saboroso... e irrefreável em diversos momentos nos quais não podemos largar a obra até sabermos o quanto mais fundo Ig consegue aguentar a próxima ferida.

Em 2013, O Pacto ganhou uma versão cinematográfica que recebeu o título de O Amaldiçoado, onde Ig é interpretado pelo ator Daniel Radcliffe e Juno Temple ficou com o papel de Merrin. Na época, quando soube que fariam uma versão do livro, e que nesta Ig seria interpretado por Daniel, dobrei o nariz. No entanto, em determinado momento da narrativa, enquanto o assistia, vi que não poderia ser diferente: Daniel finalmente havia, ao menos ali, apartado-se da marca de Harry Potter, tornando-se Ig, o Ignatius e seus chifres.
Assim, em sua trama, com as de seu pai Stephen King, Joe Hill expos o estigma do que costumamos sempre diferenciar entre Bem e Mal, mostrando que, na vida, as coisas não são sempre tão fáceis assim de serem separadas.

Por Luvanor N. ALves
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