BELEZA OCULTA, de David Frankel


Não é, nem de longe, o melhor roteiro que Will Smith pegou para atuar. Com falhas e com clichês marcados com frases de efeito. Entretanto, a proposta é o que pode dar esperança ao filme. O modo como se trata a questão da vida. Cheio de perguntas e com respostas mais enigmáticas do que os questionamentos que a geraram, o enredo lembra um tanto o livro “A Cabana” de William P. Yong.
É apresentada, aqui, a história de Howard (Will Smith), grande empresário do ramo de publicidade, bem sucedido e que acaba de inaugurar sua empresa com o apoio de seus amigos e sócios, Claire (Kate Winslet), Whit (Edward Norton) e Simon (Michael Peña). Infelizmente, ele perde sua filha de maneira trágica e não consegue se recuperar. Em meio a uma depressão, sua vida profissional reflete diretamente aquilo que passa em seu íntimo.
Caminhando a passos largos ao fracasso, a empresa que fundara se encontra numa situação delicada e é em meio a esse cenário que os sócios de Howard resolvem tentar provar que ele não tem capacidade de decisão. Logo, seus “amigos” decidem tirar seu poder de veto e vender a empresa e para isso, contratam uma detetive particular para seguir seus passos. Como resultado preliminar das investigações, nada de anormal, excetuando-se pelo fato de que Howard escreve cartas para três entidades cósmicas: o tempo, a morte e o amor.
De qualquer forma, a beleza oculta no filme não é aquilo que salta aos olhos, mas, sim, aquilo que se pode contemplar em meio às maravilhas da existência humana e sua complexidade. Três elementos. Basta isso. Deixo claro que daqui em diante é minha análise, minha visão, aquilo que pude depreender usando todo meu repertório sociocultural e convido você a fazer o mesmo, ao lançar seu olhar sobre esses três elementos existenciais.
O TEMPO
Estamos presos a ele ou ele é a nossa liberdade? O que fazemos com o tempo que nos é dado? Em uma rotina contemporânea, em que estamos sempre entre compromissos e em que a velocidade que fazemos importa mais do que a qualidade com que prestamos o serviço, qual o papel do tempo em nossas vidas? Fernando Pessoa, poeta português, já refletia sobre essa aceleração desnecessária que sofremos, ao falar: “O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade em que acontecem”.
O fato que nessa correria alucinante em que estamos encontrados, temos que obter tempo para encontrar o prazer em cada momento. A mensagem que o filme traz é que o todos os dias ganhamos o presente do tempo e temos o dever de fazer o melhor com ele. Aproveitar da melhor maneira possível o tempo. Claire dedicou toda sua vida a carreira e o sucesso profissional, fez do ambiente de trabalho a sua família e logo se vê numa disputa contra seu relógio biológico para formar uma família. Sacrificou todo o seu presente em um futuro profissional, que alcançou a solidão em meio ao frio sucesso. Parece clichê esse questão de “aproveite seu tempo”, mas o fato é que nossa sociedade não liga para isso.
O AMOR
Algumas coisas perdem o significado em nossas vidas, o amor é uma delas. Vivemos na era da banalização do amor. Tudo e a todos amamos. Talvez fruto da mercantilização dos sentimentos, veja, portanto, vivemos numa época em que podemos “abrir a felicidade”, então como não “enlatar o amor” e vender massivamente?
Ao vermos o filme, notamos que Whit perde o casamento após trair a mulher, logo ela se muda com a filha e tentar formar uma nova família. Infelizmente, dessa relação conturbada, o relacionamento entre o pai e a jovem garota é abalado, ao ponto de que a relação mais linda entre o pai e sua filha fica inexistente.
Contudo, a beleza das relações interpessoais está em reconhecer e corrigir os erros, nisso está o verdadeiro amor. Nas prateleiras da sociedade em que vivemos, o amor é algo liso, perfeito, muito embora na essência seja o contrário que prevaleça. Essa forma concreta de amar se baseia na superação das falhas do(a) outro(a). Nenhum pensamento resume melhor do que o da escritora Adélia Prado:  
Amor pra mim é ser capaz de permitir que aquele que eu amo exista como tal, como ele mesmo. Isso é o mais pleno amor. Dar a liberdade dele existir ao meu lado do jeito que ele é”.
A MORTE 
O fato consumador da vida. O mal que irremediável que encontramos em nossa jornada. Será algo tão ruim assim? Todos nós perdemos entes queridos ou estamos breves a perder ou até mesmos nós estamos perdendo a batalha para ela ou estamos para cair nos braços dela, pronta para nos acolher como uma velha amiga. O fato de que a morte é algo que estamos para encarar e, mesmo tendo consciência disso, não estamos prontos para tal.
Não aceitamos o fardo que nossa mortalidade nos impõe. Vivemos loucamente, usando ao máximo o tempo que nos foi dado para deixar nossa marca no mundo. Nesse momento, enquanto escrevo essas palavras tenho isso em mente: essa será minha marca, meu legado para as próximas gerações e para aqueles que estão lendo. O fato que é que nesse objetivo abdicamos muito. Abrimos mão do tempo com nossos parentes, com nossos amores, com nós mesmos.
Aceitar o fato que o fim se aproxima inevitavelmente a medida que não seremos nada além de lembranças na mente daqueles que conviveram conosco, é algo verdadeiramente assustador. Por isso recorremos ao tempo e ao amor pra fazer valer a pena cada momento que passamos aqui. O filme nos propõe a isso, a aceitar nosso fadado destino e fazer o caminho até ele o melhor possível. Apesar das grandes falhas, é entre essas linhas que deixo um pedaço de mim.

Por Carlos Luan
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