
É
apresentada, aqui, a história de Howard (Will Smith), grande
empresário do ramo de publicidade, bem sucedido e que acaba de
inaugurar sua empresa com o apoio de seus amigos e sócios, Claire
(Kate Winslet), Whit (Edward Norton) e Simon (Michael Peña).
Infelizmente, ele perde sua filha de maneira trágica e não consegue
se recuperar. Em meio a uma depressão, sua vida profissional reflete
diretamente aquilo que passa em seu íntimo.
Caminhando
a passos largos ao fracasso, a empresa que fundara se encontra numa
situação delicada e é em meio a esse cenário que os sócios de
Howard resolvem tentar provar que ele não tem capacidade de decisão.
Logo, seus “amigos” decidem tirar seu poder de veto e vender a
empresa e para isso, contratam uma detetive particular para seguir
seus passos. Como resultado preliminar das investigações, nada de
anormal, excetuando-se pelo fato de que Howard escreve cartas para
três entidades cósmicas: o tempo, a morte e o amor.
De
qualquer forma, a beleza oculta no filme não é aquilo que salta aos
olhos, mas, sim, aquilo que se pode contemplar em meio às maravilhas
da existência humana e sua complexidade. Três elementos. Basta
isso. Deixo claro que daqui em diante é minha análise, minha visão,
aquilo que pude depreender usando todo meu repertório sociocultural
e convido você a fazer o mesmo, ao lançar seu olhar sobre esses
três elementos existenciais.
O
TEMPO
Estamos presos a ele ou ele é a nossa liberdade? O que
fazemos com o tempo que nos é dado? Em uma rotina contemporânea, em
que estamos sempre entre compromissos e em que a velocidade que
fazemos importa mais do que a qualidade com que prestamos o serviço,
qual o papel do tempo em nossas vidas? Fernando Pessoa, poeta
português, já refletia sobre essa aceleração desnecessária que
sofremos, ao falar: “O valor das coisas não está no tempo em que
duram, mas na intensidade em que acontecem”.
O
fato que nessa correria alucinante em que estamos encontrados, temos
que obter tempo para encontrar o prazer em cada momento. A mensagem
que o filme traz é que o todos os dias ganhamos o presente do tempo
e temos o dever de fazer o melhor com ele. Aproveitar da melhor
maneira possível o tempo. Claire dedicou toda sua vida a carreira e
o sucesso profissional, fez do ambiente de trabalho a sua família e
logo se vê numa disputa contra seu relógio biológico para formar
uma família. Sacrificou todo o seu presente em um futuro
profissional, que alcançou a solidão em meio ao frio sucesso.
Parece clichê esse questão de “aproveite seu tempo”, mas o fato
é que nossa sociedade não liga para isso.
O
AMOR
Algumas coisas perdem o significado em nossas vidas, o amor
é uma delas. Vivemos na era da banalização do amor. Tudo e a todos
amamos. Talvez fruto da mercantilização dos sentimentos, veja,
portanto, vivemos numa época em que podemos “abrir a felicidade”,
então como não “enlatar o amor” e vender massivamente?
Ao
vermos o filme, notamos que Whit perde o casamento após trair a
mulher, logo ela se muda com a filha e tentar formar uma nova
família. Infelizmente, dessa relação conturbada, o relacionamento
entre o pai e a jovem garota é abalado, ao ponto de que a relação
mais linda entre o pai e sua filha fica inexistente.
Contudo,
a beleza das relações interpessoais está em reconhecer e corrigir
os erros, nisso está o verdadeiro amor. Nas prateleiras da sociedade
em que vivemos, o amor é algo liso, perfeito, muito embora na
essência seja o contrário que prevaleça. Essa forma concreta de
amar se baseia na superação das falhas do(a) outro(a). Nenhum
pensamento resume melhor do que o da escritora Adélia Prado:
“Amor pra
mim é ser capaz de permitir que aquele que eu amo exista como tal,
como ele mesmo. Isso é o mais pleno amor.
Dar a liberdade dele existir ao meu lado do jeito que ele é”.
A
MORTE
O fato consumador da vida. O mal que irremediável que
encontramos em nossa jornada. Será algo tão ruim assim? Todos nós
perdemos entes queridos ou estamos breves a perder ou até mesmos nós
estamos perdendo a batalha para ela ou estamos para cair nos braços
dela, pronta para nos acolher como uma velha amiga. O fato de que a
morte é algo que estamos para encarar e, mesmo tendo consciência
disso, não estamos prontos para tal.
Não
aceitamos o fardo que nossa mortalidade nos impõe. Vivemos
loucamente, usando ao máximo o tempo que nos foi dado para deixar
nossa marca no mundo. Nesse momento, enquanto escrevo essas palavras
tenho isso em mente: essa será minha marca, meu legado para as
próximas gerações e para aqueles que estão lendo. O fato que é
que nesse objetivo abdicamos muito. Abrimos mão do tempo com nossos
parentes, com nossos amores, com nós mesmos.
Aceitar
o fato que o fim se aproxima inevitavelmente a medida que não
seremos nada além de lembranças na mente daqueles que conviveram
conosco, é algo verdadeiramente assustador. Por isso recorremos ao
tempo e ao amor pra fazer valer a pena cada momento que passamos
aqui. O filme nos propõe a isso, a aceitar nosso fadado destino e
fazer o caminho até ele o melhor possível. Apesar das grandes
falhas, é entre essas linhas que deixo um pedaço de mim.
Por Carlos Luan
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