Há,
em um dia de neve, nos E.U.A
Um
autor que matou sua personagem;
Uma
fã nº 1 consumida de raiva;
Um
acidente na estrada que une os dois...
E
o momento em que a obsessão se tornará uma longa jornada...
O
trabalho difícil para todo leitor apaixonado verdadeiramente pela leitura é
apontar um livro favorito entre tantos que já foram lidos e relidos. Existem
personagens profundos; enredos mirabolantes; tramas bem amarradas; revelações
grandiosas ao final de páginas demais para apenas selecionar um. É difícil escolher
entre milhares de páginas lidas e dizer:
“Pronto!
Este é o vencedor!”
Fora
que ainda existe o trabalho em se selecionar o preferido em meio ao estilo. Terror.
Drama. Thriller diversos. Suspenses que apunhalam você pelas costas e deixam
seu corpo ali, tombado, estático com o que a trama lhe revela.
Stephen
King é o cara que escreve livros a serem favoritados!
Misery
(1987) ganhou-me logo no início. Nele, conhecemos Paul Sheldon. Escritor famoso, é reconhecido por sua série de
best-sellers protagonizado por Misery Chastain. No dia em que termina de
escrever um novo manuscrito, ele decide sair para comemorar, apesar da forte
nevasca. Na estrada, acaba sofrendo um grave acidente de carro, sendo resgatado
pela enfermeira aposentada Annie Wilkes.
“O destino sempre conspira”, costumo
dizer. Annie mostra-se uma das leitora dos livros de Paul, intitulando-se a
“Fã nº 1” do autor.
Impossibilitado de
andar, Paul se torna refém de Annie quando esta descobre o final do mais novo
livro do autor. Annie, por seu lado, mostra-se a encarnação do Diabo,
borbulhante em todo o seu sadismo e psicopatia, insolando Paul em um quarto. Conforme
os dias vão passando, tem-se início aí uma série de torturas e ameaças que, Paul
pensa enquanto sofre, fazem o inferno descrito na Bíblia parecer bem mais
desejado.
Annie propõe um
trato:
Que Paul reescreva um
novo livro somente para ela…
Um novo final…
Um que ela considere
apropriado para sua personagem
favorita.
O que Paul irá
ganhar, caso consiga, ele não sabe. Ferido e debilitado, terá que usa toda a
sua criatividade de escritor para salvar a própria vida.
Caso não consiga,
Annie se mostra já preparada para o que virá logo em seguida…
Misery é um daqueles livros de terror psicológico que amo me
envolver. Trata-se do medo de qualquer pessoa que se encontra em meio ao
sucesso e esbarra com alguém tão louco quantos suas mais monstruosas ideias;
alguém que, pior, diz ser seu fã enquanto aponta o cano de uma arma para sua
cabeça.
O livro é dividido
em partes – Annie, Misery, Paul e Deusa – sendo contato por um narrador
onisciente focado em Paul Sheldon. Por ele sabemos o quanto a dor o devora, o
quanto os passos de Annie no andar de cima o deixam louco, o quanto doe quando
Annie decide “brincar” de modo mais incisivo.
Não sabemos,
contudo, o quão louca e perigosamente instável é Annie Wilkes! Sabemos apenas
que mora sozinha em uma casa de fazendo no meio do nada, que adora ler romances
vendidos em mercearias e que tem uma porca chamada Misery, em homenagem à sua
personagem favorita em todo o mundo.
A mão que segurava o
rato fechou-se em um punho. (…) Paul ouviu seus ossos quebrando, e então os
dedos grossos de Annie enfiaram-se na carcaça, desaparecendo até a segunda
falange. Sangue espirrou no chão. Os olhos baços da criatura se estufaram.
Sabemos, e somos
fulminados quando descobrimos, que Annie não é tão desatenta assim:
“Você pode achar que
pode me enganar, me passar para trás. Eu sei que eu pareço lerda e burra. Mas
eu não sou burra, Paul, e eu não sou lerda.
Subtamente seu rosto
se transformou.”
King escreveu Misery inspirado em um conto de Evelyn
Waugh chamado O Homem que amava Diskens (The
man who loved Dickens). Muito da premissa de Misery se assemelha aos elementos contidos no romance O Colecionador (1963), de John Fowles.
Temos um alguém que não se diz louco, armado com uma casa no meio do nada, uma
grande paixão não compreendida e seu principal ídolo preso em cativeiro.
![]() |
Kathy Bates encarnando Annie Wilkes |
Em 1990, Misery ganhou sua versão para o cinema. Misery – Louca Obcessão teve como
protagonistas James Caan, no papel de Paul Sheldon, e Kathy Bates como Annie
Wilkes. O desempenho de Bates foi tão incrível e brilhante como Annie, que este
lhe fez ganhar o Globo de Ouro, o Chicago Film Critics Association Awards e o Oscar
de Melhor Atriz.
Dentre todos os
livros com antagonistas que já li, Annie Wilkes é uma das melhores. King a
construiu de forma impecável. Ela claramente possui um transtorno de
personalidade, além de ser maníaca-depressiva, e a cada crueldade que comete, o
leitor fica cada vez mais curioso sobre o que ela fará em seguida…
Annie é uma
personagem cruel, estranhamente perturbada, porém fascinante!
Então
você vira e lê a última página…
Respira...
e pensa que tem diante de si o livro
MAIS MONSTRUOSO DE TODOS!!!
Como
o próprio narrador diz, "as
personagens vibram".
Você
sente a veracidade no que está sendo dito e nas personagens que ali sofrem.
Paul
está nítido. Ele "pulsa".
Já
Annie...
Annie
DESFIBRILA!!!
ANNIE
É UM CORAÇAO ACELERADO JORRANDO SANGUE QUANDO ESTE ENTOPE E BORBULHA ENTRE AS
ARTÉRIAS!!!
ANNIE
ESTÁ NOS ESPREITANDO ATRÁS DA PORTA ENQUANTO LEMOS... ANNIE E SEUS OUVIDOS.…
ANNIE
E SUA INTELIGÊNCIA SOBREHUMANA...
ANNIE
E SEU MACHADO PRONTO PARA SER USADO…
ANNIE E SEU MACHADO LUSTROSO CONTRA A LUZ DAS MÚLTIPLAS TROVOADAS!
Por
Luvanor N. Alves
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