![]() |
Adicionar legenda |
Talvez
esse não seja o título mais conhecido de John Green, mas com certeza não fica
atrás na qualidade da escrita. A primeira vista, o romance parece ser entre os
dois Wills que coincidentemente se encontram, mas o desenrolar da história nos
mostra que o amor pode ser uma caixinha de surpresas.
Uma
prova do bom desenvolvimento dos personagens é através da própria forma como o
livro é escrito, cada capítulo é construído por um personagem e apresenta as
características da personalidade que eles têm. São duas histórias que se
encontram. A ideia dos autores pode, no primeiro momento, confundir o leitor
despreparado, mas no final dá uma visão mais ampla da história.
As
histórias dos dois Will Grayson mostram que a autoafirmação que os adolescentes
enfrentam durante o “High School” (Ensino Médio) pode ser de forte influência
para construção de nossa personalidade. Também vale salientar a presença dos
amigos, virtuais e/ou presenciais, que sempre podem servir como apoio nas
adversidades e para as loucuras que a adolescência exige que façamos. Muitas
vezes é no ambiente virtual que o jovem do século XXI encontra conforto para
mostrar seus sentimentos, suas incertezas e procurar um lugar favorável nesse
mundo real caótico.
Acredito
que outro fator para a qualidade do livro seja a coautoria de um grande amigo
de John Green, David Levithan, que é menos conhecido do público, mas que já
possui uma literatura na área e que também busca um diálogo com os jovens num
contexto de autoconhecimento. Conhecido por títulos como “Garoto Encontra
Garoto”, “Dois Garotos se Beijando” e “Todo Dia”, Levithan se mostra como um
promissor escritor que consegue estabelecer uma linha com seus leitores, tendo
em seu currículo parcerias com Rachel Cohn, com quem
escreveu Naomi & Ely e a Lista dos Não-beijos, e com Andrea Cremer, com quem escreveu Invisível.
Um
dos personagens que roubam a cena ao longo do livro é o Tiny Cooper.
Já
conhecido dos leitores de Levthan, já que aparece desde 2003 no livro “Garoto
Encontra Garoto”, Tiny consegue brilhar mais uma vez nesse livro. Com seu jeito
emotivo e louco de viver a vida, o jogador de futebol americano passa por idas
e vindas de relacionamentos com seus “crush” sempre ao lado de seu amigo Will
Grayson.
Os
sonhos grandiosos de Tiny sempre deixaram Will preocupado, mas quando ele
resolve escrever e apresentar um musical sobre sua vida e usar para combater o
preconceito em sua escola, Will se vê preocupado com a exposição que possa
sofrer e chega a abalar essa bela amizade. Aqui vale colocar que o brilho de
Tiny Cooper não termina aqui, em 2015 foi lançada a publicação com o famoso
musical com o título “Me Abrace Mais Forte”.
Como
todo bom livro de jovens, temos que apresentar um romance romântico, apesar de
que se cria uma expectativa muito grande para o encontro entre os dois
personagens que dão título ao livro, nasce ali uma amizade que pode mudar a
visão de cada um. Claro que esse grandioso encontro tinha que acontecer em um
palco apoteótico de um sex shop. Mas a ironia não termina nesse encontro, o
livro é todo cheio de um humor negro que lembra a de outra personagem de Green
que possuía câncer. A combinação do titulo do livro com a expectativa do
encontro faz com que o leitor (e eu fui fisgado nesse ponto) espere uma grande
história de amor, de fato temos, não só uma, mas várias historietas de amor,
mas nada como se esperava no início.
A
forma como o relacionamento entre os personagens se constrói e suas reflexões
sobre essa misteriosa e conflitiva fase da vida que é a adolescência, torna a
leitura agradável e tranquila. O inesperado final promete deixar o leitor com o
gosto de “quero mais”. Abrupto e sem anúncio, o final preparado por Tiny Cooper
é, sem dúvida, digno do título do livro. Um encontro inesperado e que torna
toda história uma epopeia simples de uma vida típica americana.
Se
eu recomendo a leitura?
Acredito que, antes de dormir, sonhar com as loucuras
dos Wills e a aventura pelas quais eles passaram pode ser uma experiência
fantástica para qualquer jovem adolescente (na idade ou no coração) que procura
seu lugar no mundo. Green e Levithan foram muito felizes ao tratar de assuntos
delicados para muitas famílias, como a homossexualidade, depressão, drogas e
ainda sim trazer um humor sarcástico que é característico nos jovens. Com
certeza, o que me trouxe essas palavras foi a forma como esses assuntos tocam
nossa geração. Vagamos sozinhos numa imensidão virtual sem rumo, num mundo
cheio das pessoas mais estranhas possíveis e nos esquecemos de dar nossa
própria chance, confiamos demasiadamente nos outros e esquecemos que é dentro
de nós, em nossas loucuras, que devemos buscar a felicidade.
E,
sim, amigos são importantes.
Ao longo da leitura é perceptível como à amizade é
algo importante para um adolescente. Will e Tiny nos mostram como é possível
que ela seja forte e vença preconceitos. Will e Will nos mostra como, de
encontros inesperados, podem surgir a mais divertida amizade. E é isso que nos
falta em nossa sociedade, amizades simples e verdadeiras.
Por
fim, deixo aqui a citação que me toca no livro e que com certeza já se passou
pela sua cabeça, caso não, passará agora:
“Não digo ‘bom dia’. Acredito que
seja essa uma das expressões mais imbecis já inventadas. Afinal, você não tem a
opção de dizer ‘mau dia’ ou ‘horríveldia’ ou ‘não-dou-a-mínima-pro-seu-dia’.
Todas as manhãs, espera-se que seja o início de um bom dia. Bem, eu não
acredito nisso, acredito contra isso.”
Por Carlos Luan.
Mais novo membro do ME, tem 18 anos e é aluno de Direito na UFERSA, em Mossoró (apesar de ter o coração limoeirense). Acredita que a melhor frase que possa definí-lo seja "o
caos em ordem".
0 comentários:
Postar um comentário