Existe muito reclamar quando nos ferem. Seja quando pensam que nosso
coração é de ferro, seja quando o tratam como pista de pouso em que vem e vão,
deixando apenas marcas no asfalto. É redundante dizer que sofremos. O
sofrimento faz parte da vida tanto quanto respirar, pois é preciso sofrer para
seguir (mesmo quando alguns destes nos impulsionam a seguir em direção
contrária ao que se espera). É mais normal do que se pensa olhar para frente
enquanto se sofre, ao não se avistar caminho seguro, estável logo mais, e
pensar que eu “prefiro volta”, enquanto se conversa com o sofrimento.
Somos como concreto mal formulado, espada forjada em mal passadas
mudanças de calor e resfriamento. Não somos perfeitos, apesar de tentarmos
sempre mostrar ao mundo que estamos bem, obrigado. Somos talhados pela dor,
excesso de rachaduras, construção torta que se inclina a menor mudança do vento
sul. E quando nos ferem, quando nos vergam como gravetos no mato para nos
extrair dor, não suportamos… e sofremos.
Este é o momento em que toda a falsa segurança se rompe, estala nas
juntas. E choramos...
... Sob as cobertas…
... Sobre ombros…
... Em nossa própria mente já tão cansado de nos ver assim que bufa
revirando os olhos para o alto dizendo um “de novo você se deixou ferir!” entre
nossos soluços que não tentamos conter.
Mas nenhuma dor é estática!
Quando se passa um tempo – um relativo tempo para se abrir janelas ao
sol e livros à mente –, tocamos aquela dor esponjosa jogada no canto de nossas
paredes e vemos, em um meio choque, meio prazer, que aquela já não respira
mais. Sua alma ferina deixou de existir.
Somente aí observamos nossos cômodos, nossa estrutura, contabilizando
os novos estragos que teremos que avariar.
... Logo à frente a pintura se desgastou...
... Três… não! Quatro novas rachaduras entre os tijolos das paredes dos
quartos mal iluminados...
... Parafusos frouxos entre as dobradiças...
Mas nada que nos fulmine de vez!
O mover daquele corpo nos modificará. A dor desta vez perfurou espaços
e barreiras que nem ao menos você sabia que existiam. Mas, uma vez mais, você
perdurou.
Você que se julgava fraco, você que se julgava não ser mais capaz de
encarar dores futuras, uma vez mais resistiu... Venceu esta batalha em que você
mesmo se sabotava.
A dor ainda está caída ao canto da parede, sem ar em sem pulmões que a
façam continuar te atacando.
Você que se julgou fraco, destruído quando te machucaram, entendeu que
“nenhuma dor é estática sobre seu coração violento”.
Somente aí você olha para tudo:
O que viveu;
O que sofreu;
O que pensou não vencer, mas venceu;
E sorri! Porque, mais forte do que dores cruéis, são suas paredes que
resistem a outra passagem das estações,
... Prova disse é seu coração que ainda batendo, mesmo sofrido…
... E o teto da tua coragem que ainda te sustenta, mesmo cansado...
Por Luvanor N. Alves
0 comentários:
Postar um comentário