Há, na Carolina do Norte, Nos E.U.A,
Um
rapaz tentando esquecer a ex-namorada;
Uma
moça assassinada no Trem Fantasma;
Um
garoto com um Dom especial à beira da morte;
Um serial killer
que acredita que escapou impune;
E
o Parque Joyland sendo, aos poucos,
devorado pelo Tempo.
“King é o Rei do Suspense”, dizem.
E
somos sempre, diante desta afirmação quase que marcada a ferro e brasa sobre as
mentes, induzidos a crer que, a cada nova obra do autor, esta sempre será
montada sobre características que induzam a permanência desta afirmação.
“King é o Rei do
Suspense!”
Para
leitores iniciantes em King, aconselho: não
queiram encontrar respostas sobre o que você considera impossível! Não tentem
explicar, por exemplo, por que uma garota esquisita pode matar usando a mente (Carrie, A Estranha); ou se é A Morte em pé no escuro, no canto da parede, encarando a
mulher acorrentada à cama, esperando apenas que essa morra (Jogo Perigoso); ou
ainda por que um homem, mutilado depois de um acidente, consegue prever o
futuro e escavar o passado enquanto pinta telas mortais (Duma Key). King não
irá lhe explicar! A escrita dele – e sua magia! – está em como as coisas se
desenrolam a partir daí. Contudo, sempre existe aquela presença sobrenatural
rondando a vida de todos, afinal, nossas vidas são mais repletas de marcas
inexplicáveis do que racionais.
Então,
Stephen King escreve Joyland (2013) e
tudo o que conhecemos sobre ele ganha novas cores. Neste, King parece pintar
tudo com cores que se destacam diferentes de todos os outros, como um dos
quadros do nascer do sol que Edgar pinta com o fantasma de seu braço amputado em Duma Key. Em Joyland, estamos em 1973, quando o
universitário Devin Jones começa um
trabalho temporário no parque Joyland, com a intensão de esquecer a ex-namorada
que partiu seu coração. No entanto, outra garota desperta a curiosidade do
jovem. Linda Gray é linda, ruiva, e
foi assassinada anos atrás no Trem fantasma! Depois disso, o brinquedo ganhou
ares de assombrado, com lendas que diziam que o fantasma da garota estaria lá
dentro esperando quem ousasse se aventurar pela Horror House, nome do
brinquedo.
Então Devin se aventura em investigar a morte de Linda, unindo as
pontas soltas do caso, afinal o assassino nunca foi preso, e o espírito da
garota precisa ser libertado dos grilhões metálicos dos carros do brinquedo –
Para isso, Devin conta com a ajuda de Mike,
um menino com um Dom especial e uma doença grave que o está matando
rapidamente.
Devin
(ou Jonesy, como é chamado pelos colegas do parque) é levado pelo senso de
impunidade, sobre a raiva surgida em seu peito quando conhece a história do
último dia de Linda, contada por um dos integrantes do parque, quando este relata
sobre o momento em que a garota entrou com seu namorado no Trem Fantasma:
“—
Ele a levou para comer e então foram à Carolina Spin, um brinquedo lento, sabe,
tranquilo para a digestão, depois para o Horror House. Entraram juntos, mas só
ele saiu. Na metade do brinquedo, que dura uns nove minutos, ele cortou a
garganta dela e a jogou na lateral do trilho pelo qual o carrinho segue. Como
se ela fosse lixo. Ele devia saber que se sujaria, porque estava com duas
camisas e tinha colocado um par de luvas de trabalho amarelas. Encontraram a
camisa de cima, a que pegou a maior parte do sangue, a uns cem metros do corpo.
As luvas, um pouco mais para a frente. Eu conseguia imaginar: primeiro o corpo,
ainda quente e pulsando, depois a camisa, depois as luvas. O assassino, enquanto
isso, fica sentadinho até o fim do brinquedo. A sra. Shoplaw tinha razão, era
apavorante.”
Ver
o espírito da jovem se tornou uma obsessão para ele. A história de Linda Grey,
no entanto, não se mostra tão óbvia quando pontas soltas se mostram mais
afiadas do que deveriam ser. Sobre estes dardos, Devin caminha,
pergunta...
... questiona…
... se
mete onde não devia...
... E
recebe as consequências dos seus atos quando a tempestade finalmente chega
sobre Joyland e ameaça ruir a Roda-Gigante e a verdade que está dentro dela…
Davin
possui no peito um coração destruído e marcado pela decepção. No entanto, seus
dias correm com a veemente possibilidade de que muitos verões ainda o aguardam
sobre suas possibilidades de crescer e envelhecer. Ele é jovem, atlético, com
os pulmões ainda com espaços de sobra para outras tantas aventuras e lufadas
grandes de decepção que a vida pode trazer. Traz aquela birra adolescente ainda
aquecida na alma:
“As pessoas pensam que o
primeiro amor é fofo e que fica ainda mais fofo depois que passa. Você já deve
ter ouvido mil músicas pop e country que comprovam isso; sempre tem algum tolo
de coração partido. No entanto, essa primeira mágoa é sempre a mais dolorosa, a
que demora mais pra cicatrizar e a que deixa a cicatriz mais visível. O que há
de fofo nisso?” (p.7)
Em sua primeira semana, ele ouve de uma
vidente que ele conhecerá duas crianças: uma
menina com uma boneca e um menino com um cachorro. Logo, os fatos começam a
caminhar e a história mergulha entre os mistérios de King, carregados de melancolia.
Assim, Devin conhece Mike, uma criança que passa os dias em uma cadeira de
rodas por conta de uma distrofia muscular.
Provavelmente
seguindo a linha de…
Carrie
e sua telecinesia, em Carrie, A Estranha;
Danny
e sua iluminação, em O Iluminado;
John
Coffey e seu poder de cura, em À Espera de um Milagre,
Mike,
em Joyland, vê os mortos!
Diante
disso, por que não perguntar
A PRÓPRIA LINDA,
DENTRO DO TREM FANTASMA, QUEM A MATOU?
Sobre
o livro, a Entertainment Weekly afirmou que esta é…
“Uma
das histórias mais bem escritas de King… Profunda, divertida, cheia de
reviravoltas, despretensiosa e, por fim, arrasadoramente triste.”
Não
sei sobre o que outros leitores sentiam enquanto liam Joyland, mas o senti como
uma despedida. A narrativa é construída de modo diferente de tudo que King já
fez. Mesmo com todos estes levantes melancólicos, até mórbidos, o livro é
doce... Mas, quanto a esse ponto, King mostrou que não para e já publicou
diversas outras obras desde o lançamento deste. (Aleluia!!!)
Se
tivesse que escolher um adjetivo para o melhor caracterizar, tendo em mente
outros textos do autor, diria que este é um livro “macio”. As palavras
deslizam, se derretem dentro de sua mente.
Acompanhar
a luz que existe dentro de Mike, a força de vontade que pulsa ali dentro
daquele corpinho frágil limitado pela doença emociona qualquer alma enrijecida
por outros sonhos roubados e esquecidos.
Não
existe vazio em Joyland, muito menos desvio
inverossímil na construção das personagens. Estas são quase sólidas ao alcance
dos dedos! Tudo ali respira com uma aura boa de ser lida.
Então
compreendemos a relação entre Devin, Linda e Mike.
O
primeiro respira as probabilidades de futuro, da existência quase certa de
haver outra curva além na estrada, mesmo seus sentimentos sendo uma
montanha-russa emocional. Enquanto as histórias de Linda e de Mike se
correlacionam, tocam-se pela perspectiva daqueles que jamais terão a chance de
crescer, Linda por ter tido sua vida arrancada sob a escuridão do brinquedo sem
a chance de passar por mais nenhuma experiência em sua vida depois daquela tão
arrasadora; enquanto Mike, como um equilibrista, suspende-se sobre o picadeiro
em um espetáculo onde todos os espectadores, inclusive sua mãe, já sabem que
este não alcançará o fim da corda e cairá em direção ao solo sem proteção…
Nesse,
Stephen King mostra seu dom de nos fazer criar vínculos diretos com suas
personagens. Arrastar nossas angústias e corações, fazendo-nos temer que a vida
siga em frente… para logo em seguida se despedaçar como o metal de um Buick número 8 estalando enquanto este acelera
contra um muro de concreto.
Joyland, em sua pegada
meio pulp, enlaça nossa atenção e nos
faz refletir com determinadas passagens, como um sábio sentado sobre uma rocha
a nos dizer “silêncio enquanto escutam o
que tenho para dizer”.
Devin,
enquanto retorna ao verão de 73 e nos conta o que viu, traz observações sobre o
que aprendeu em sua vida depois de sua morada no parque:
“Quando se tem vinte e um
anos, a vida é um mapa rodoviário. Só quando se chega aos vinte e cinco, mais
ou menos, é que se começa a desconfiar que estávamos olhando para o mapa de
cabeça para baixo, e apenas aos quarenta temos a certeza absoluta disso. Quando
se chega aos sessenta, vai por mim, já se está completamente perdido. “ pag 20
Bem
como verdades dolorosas que aprendeu sobre as pessoas:
“Algumas pessoas escondem
suas verdadeiras personalidades, querido. Às vezes, dá pra perceber que estão
usando máscaras, mas nem sempre. Até pessoas com intuições poderosas podem ser
enganadas.” (p. 232)
O
livro não se trata apenas sobre descobrir quem matou Linda Grey no Trem
Fantasma...
Nem sobre se Devin irá curar seu coração ferido...
Ou
se Mike encontrará, com seu Dom, as respostas que Devin procura, antes que sua
doença o fulmine...
Ou
sobre quem seria a menina com a boneca que Devin deveria conhecer em breve…
Ou,
menos ainda, se haveria um milagre sobre Mike antes das páginas finais...
Joyland fala sobre
não perder tempo!
Não esperar!
Não esconder seu coração entre as pedras
esperando que este se camufle entre a solidez daquelas que não respiram.
Joyland
fala sobre
a capacidade em ver que a vida é curta;
Que
esta é como um único bilhete para a Montanha-Russa:
Tudo
é veloz.
Tudo
passa.
E,
quando menos se espera, o fim da rodada chega.
...
Joyland
ensina que,
quando os vagões do brinquedo começarem a correr e o tempo passar, você precisa
gritar.
Sorrir
e gritar!
Porque,
a vida, não pode ser baseada apenas em passar em silêncio em um único brinquedo sem
que se aproveite o resto de diversão que o parque pode oferecer antes que o dia acabe
de vez.
Por
Luvanor N. Alves
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