DEXTER – A Mão Esquerda de Deus, de Jeff Lindsay

Há, na ensolarada Miami, nos E.U.A,
Dexter Morgan e seu sorriso bondoso;
Dexter Morgan e seus dentes de lobo;
Dexter Morgan e uma faca empunhada.
DEXTER MORGAN e sua sede em matar...

... E não deixar o sangue correr... JAMAIS!

Ahn, o sabor em matar!…
Existe uma força e uma motivação que impulsiona o homicídio dentro da literatura. É uma forma de resolver problemas, contornar pedras, saltar muros que impediam que determinadas ações fossem realizadas por seus protagonistas. Muitas vezes, a saída em se extrair a vida de uma personagem sobre as mãos de outras funciona como um estopim, um empurrão além dos limites do penhasco, uma saída quase milagrosa a La Deus Ex Maquina
Há muito sangue derramado entre as páginas ao longo da história. Desde os cultos gregos ao herói, onde este era coroado em função das vidas de Quimeras ou Hidras fulminadas. Ou sobre a ira de Romeu que, após ver seu primo Mercúrio assassinado, mata Tebaldo para vingar a morte do parente, em Romeu e Julieta, de Shakespeare. Ou, ainda, mais recente, quando Frodo briga contra o Gollum, no centro da Montanha da Perdição, deixando um O Anel cair na lava, destruindo os poderes de Sauron que, destituído de forças, foge, dando início à Quarta Era, a Era dos Homens, em O Senhor dos Anéis, de Tolkien.
São exemplos do quanto nos condoemos pelo herói e por suas motivações em exterminar vidas, afinal, independente do mal que seus inimigos tenham ou possam lhe infringir, são vidas sendo ceifadas.
Somos treinados a lutar e torcer pelo herói que, de coração nobre, realiza sua ação mais altruísta ao dar sua vida em defesa de todo um povo. O herói parece-nos passível de compreensão quando mata.

“Ele matou porque tinha que ser assim”,
talvez você pense.

Pois trabalhamos com a ideia da motivação. É compreensível quando Hercules decapita monstros; Romeu apunhala Tebaldo, ou o Hobbit destrói Sauron. Pensa-se sobre o que poderia acontecer com as aldeias, as famílias ou o mundo caso o Mal não seja exterminado.

“Eles mataram porque tinha que ser assim”,
talvez você reafirme.

O herói sempre tem razão!
...
Então, como Mary Shelley fez com A Coisa em Frankenstein, em 1818, Jeff Lindsay deu vida ao seu “monstro”.

“Dexter respirou!”

Em Dexter – A mão esquerda de Deus (2005), conhecemos Dexter. Ele é atraente e charmoso, trabalha no departamento de policial do condado de Miami-Dade, é analista forense especialista em padrões de dispersão de sangue em cenas de crime e é um serial killer nas horas vagas! Dexter é o dito “genro que toda sogra quer ter”. Educado. Atencioso. Cuidadoso. Mas existe um lado obscuro em sua personalidade: um desejo irrefutável em matar. Treinado por seu pai desde criança sobre como controlar esta compulsão, ele passa a fazer o papel de Justiceiro: Mata apenas quem merece morrer e em quem a polícia não consegue por as mãos. Ele é um assassino que extermina apenas outros assassinos! Ninguém escapa de seu “passageiro sombrio”.

Até que um assassino diferente surge pelas ruas de Miami.
Um que está assassinando garotas de programa...
... Um que dirige um caminhão de Gelo...
... Um que drena todo o sangue de suas vítimas, as despedaça e embrulha as partes como presentes...
... Um que, não sabemos como, parece estar tentando mandar um recado para o próprio Dexter...
... Tentando dizer:

“Olá, Senhor Morgan, eu descobrir o seu segredo e quero brincar!”

Mas, ao invés de se desesperar quando percebe isso, Dexter sorri...
Afinal, ele é um lobo! E imaginar que existe ali outro querendo o mesmo território, disposto a brigar com mordidas e facas afiadas, deixa o nosso “Adorado Dexter” mais do que empolgado...
Empolgado para conseguir encontrar antes da polícia o “Assassino do Caminhão Frigorífico” e apertar sua mão.

A narrativa de Jeff Lindsay provoca em nossos corações um dualismo. É quando todos os nossos conceitos de certo e errado se confundem em Dexter. Afinal, Dexter é um assassino! Ele mata pessoas fora da Lei. E, diferente do que pensamos, ele não faz isso por um princípio de proteção ou “justiça com as próprias mãos”. Dexter mata porque quer matar! Precisa matar!
Como, logo no início do romance, ele “pega” um padre pedófilo que matava suas vítimas e escondia seus corpos:

O padre Donavan ficou procurando as chaves, abriu a porta do carro e entrou. Ouvi a chave entrar na ignição. O motor ligar. E então...
AGORA.
Sentei-me no banco traseiro e enfiei o laço em seu pescoço. Uma volta rápida, escorregadia e perfeita e a linha para peixes de quinze quilos ficaram firme. Ele fez um pequeno movimento de pânico e pronto.
- Você agora é meu - Eu disse e ele ficou paralisado com precisão e perfeição, como se tivesse ensaiado, quase como se tivesse ouvido a outra voz, o observador risonho dentro de mim. (p. 11)

Nossos princípios se camuflam, se confundem, se invertem e terminamos por torcer por Dexter. Torcer para que ele sempre consiga fugir quando a polícia se aproxima, quase a ponto de descobrir o seu segredo. Descobrir que, dentro daquele cercado recheado de ovelhas, existe um lobo sorrindo... e devorando carne e lã aos bocados.

O foco narrativa não poderia ser melhor: é o próprio Dexter quem narra! Então, em diversas vezes, nos deparamos com suas afirmações, deduções... seus planos sendo traçados até a próxima vítima,
Ou para driblar os dedos da polícia…
Ou de sua irmã Debra, também policial;
Ou do Sargento Doakes que, inexplicavelmente, e diferente de todos, não gosta de Dexter, sempre achando que ele esconde alguma coisa por baixo de seu sorriso de bom moço.
O melhor do romance (além do desenrolar e das fugas sacais de Dexter) é o sarcasmo presente e suas observações. Por ser um narrador protagonista, em diversas passagens ele se dirige a nós, leitores, e meio que nos tornamos cúmplices de tudo o que ele faz quando a noite cai e os monstros saem das sombras.

Lá pelas quatro e meia da manhã, o padre estava todo limpo. Eu me senti bem melhor. Era sempre assim, depois. Matar faz com que eu me sinta bem. Desfaz os nós do esmerado esquema sombrio do querido Dexter. É um suave relaxamento, um necessário abrir de todas as pequenas válvulas hidráulicas internas. Gosto do meu trabalho, sinto muito se o incomoda. Ah, sinto muito mesmo. Mais eis ai. E não se trata apenas de um assassinato comum, claro. Tem que ser feito do jeito certo, na hora certa, com a pessoa certa; é bem complicado ,mais muito necessário. (p. 20).

Dexter é esse personagem ambíguo do qual queremos acreditar que seja bom, mas, sempre que surgem fatos que corroboram com esse nosso desejo, Dexter nos olha bem nos olhos, abre seu sorriso felino mais desafiador e lambe os lábios, faminto.
 
Michael C. Hall sendo Dexter <3
Em 2006, o canal Showtime, estreou a série Dexter, baseada nos livros de Lindsay. Michael C. Hall no papel de Dexter foi brilhante logo na primeira cena (o encontro com o padre no trecho citado está presente no primeiro episódio). Hall tem todas as sutilezas, os sorrisos, a carinha de anjo quando Dexter maquina planos para chegar a sua presa. Logo fui envolvido pelas personagens e pela perspectiva. Em setembro de 2013, foi ao ar o último episódio da série, contabilizando 8 temporadas, porém, para os fãs, os que acompanham as fugas de Dexter por 8 anos seguidos, o final da série foi imensamente decepcionante (até hoje não consegui assistir ao final. Nego-me em ver Dexter ruir!).
Ao todo, foram escritos 8 livros sobre nosso Querido Dexter. Inclusive, no segundo livro, tem uma das cenas mais grotescas e angustiantes que já li, no momento em que surge um novo serial killer em Miami. O título do último nos fere ... e fere como estocadas... Mas precisa ser lido para que se descubra o que realmente acontece...

1.       Dexter – A mão esquerda de Deus
2.       Querido e devotado Dexter
3.       Dexter no Escuro
4.       Design de um Assassino
5.       Dexter é Delicioso
6.       Duplo Dexter
7.       Dexter em Cena
8.       Dexter está Morto

Sobre o primeiro, tudo foi tragado em 2 dias por mim. Não conseguia largar Dexter. Ele debocha de você caso você desista.
Dexter é um peso na literatura. Uma quebra de regra. É um herói violento que mata...
Que apunhala corações como um Romeu que sorri enquanto vê as vidas tombarem...
Dexter nos leva a rever tudo... Ele aponta para nossa cara logo após vitimar mais alguém e nos observa sorrindo, admirados...
Quase dizendo um “eu sei que você também gostou, admita, vai!”
Quase felizes por ele ter conseguido uma vez mais...
Matar?
Fugir?
A gente não sabe...

Só sabemos que, ao final, “Dexter É Delicioso!”

Por Luvanor N. Alves
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