A criação artística não possui gênero, basta sentir

Não existe uma voz ideal para um escritor...

O fato de determinado autor ser homem ou mulher, não o impossibilita de escrever sob outras perspectivas. Criatividade não vem (nem nunca virá!) com especificação de gênero nem direcionamento sobre como se deve escrever. O princípio da criação artística diz respeito apenas ao sentir, seja este moldado por tatos, visões ou olfatos apurados às peculiaridades que untam de farinha forte o bolo da vida.
Escrever diz respeito à percepção do mundo, à utilização de olhar atentos ao que o mundo esconde em suas camadas. Um criador tem única e exclusivamente a função de apreciar de modo atento este universo – e a todas as outras galáxias que existem dentro de cada ser humano – e expor tudo isso ao conhecimento daqueles que, por descuido, não observam.
Cada galáxia interna é infindável. Assim, toda obra está incompleta. Toda obra diz apenas uma parcela do que se tem a dizer sobre aquilo tudo. Existem muito mais coisas além do que a focalização narrativa do narrador nos permite conhecer.
Por esse meio, não existem barreiras que impossibilitem a criação para se dizer. Dizer o que o mundo sente, com que compassos passeiam os corações humanos. O ato de sentir vai além do princípio de ser homem ou mulher.

Sentir é subjetivo.

O sentimento é caleidoscópio de um macro colossal que não se deve restringir apenas ao gênero.  
Pobre seria – se você, leitor, discorda disso – da literatura de Origines Lessa que fala por cabos de vassoura em Memórias de um Cabo de Vassoura (1971); de Graciliano Ramos e os sonhos idílicos da cachorra Baleia, em Vidas Secas (1938); de Natércia Campos dando voz com toque saudosistas a uma casa em A Casa (1999) ou a de Machado de Assis confabulando com os mortos em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Os mortos também sentem e não são esquecidos pela arte do sentir. Eles caminham em Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez, e em Incidente em Antares, de Erico Verissimo.
Nenhum escritor que realmente ama o que faz tem somente como molde suas inspirações pessoais e seu gênero em favor do que espera ao final do trabalho... Eu mesmo, em algumas passagens do que escrevo, só consigo escrever como uma mulher (menina, senhora...), pois é isso que o texto exige de mim. E, talvez, seus pais gostem de Chico Buarque de Holanda, compositor e ESCRITOR, que, em muitas de suas criações, escreve tomando a voz feminina por ser esse o meio mais verossímil de se alcançar o que pretende:

criar e falar do dom de sentir!!!


A arte, como força única e plena dos sentimentos, não se restringe a meros contratempos como o gênero daquele que move a caneta ou açoita com gula as teclas do computador. O criador é apenas um para-raio, captando as mensagens que o passado, o presente e o futuro transmitem ao longo das Eras, implorando por um pouso para serem escritas. 

Por Luvanor N. Alves
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