Há, na Cordilheira Teton, nos
E.U.A,
Duas amigas sumindo a montanha…
Dois sequestradores esperando-as
baterem à porta…
Um segredo escondido na dispensa
dentro de uma caixa…
E a dúvida sobre se alguém sobreviverá ao final desta história!?
“Vamos
inovar!”, deve ter pensando Becca Fitzpatrick, autora da série Hush, Hush, quando idealizou os
princípios que norteariam o enredo de Gelo
Negro, “construirei minha trama com base nos elementos de gato e rato
presentes na atualidade, onde o rato, à segunda olhada, nem sempre pode ser o
mocinho da história”.
Em Gelo Negro (2015) conhecemos Britt Pfeiffer. Após meses se
dedicando ao estudo de mapas e sobrevivência em situações de perigo, ela planeja
subir uma trilha na Cordilheira Teton com sua melhor amiga, Korbie, porém
não contava que o irmão desta, Calvin, e também seu ex-namorado, se
juntaria à escalada. No caminho, antes que Britt consiga entender seus
sentimentos por seu ex, ambas as amigas são surpreendidas por uma nevasca,
obrigando-as a abandonarem o carro na encosta e caminharem em busca de abrigo.
Bons metros à frente, encontram uma casa, onde se tornam reféns de dois
criminosos que, presos como elas, e após descobrirem os conhecimentos de Britt sobre
o espaço onde estão, querem que ela os ajude a fugir dali.
“No alto das montanhas nada é o que
parece. Todos ali têm segredos, até mesmo Mason, um dos sequestradores.”
Em contra partida a essa narrativa,
um misterioso caubói passou o último ano entrando em bares da região, aos pés
da montanha.
Entrava.
Bebia…
E saia levando consiga uma mulher.
Sempre uma diferente. Depois daí,
as mesmas sumiam, por horas, dias até. Sendo encontradas, semanas depois,
mortas no interior de cabanas vazias durante a estação da nevascas.
“Já ficara bêbada antes, mas nunca
daquele jeito. Ele lhe dera alguma coisa. Devia ter colocado alguma droga em
sua bebida. A droga a deixava exausta e ela se sentia pesada. Roçou a corda
contra a barra. Ou ao menos tentou. Seu corpo todo estava pesado de sono. Ela
precisava lutar contra isso. Algo terrível iria acontecer quando ele voltasse. Tinha
que convencê-lo a desistir. (p. 11).
Semelhante à dupla de assassinos da
família Clutter, na pequena cidade de Holcomb, no Kansas, no livro A Sangue Frio, de Truman Capote, a
personalidade dos sequestradores em Gelo
Negro se dualizam. De um lado temos Mason. Olhos atentos, como um
felino sobre o muro espreitando a presa no escuro, pronto a dar o pulo certeiro
a arrebata-lo. No entanto, algo em seus gestos, no mover de suas mãos e no modo
como fala com Britt, induz que, por trás daquele olhar frio, existe uma
necessidade em esconder algo, uma verdade que ele não pensa em revelar caso
surja o momento de confronto final.
Do outro lado, temos Shaun.
Sobre este brilha a insanidade. Entendemos ser ele o responsável em puxar o
gatilho, caso precise, sem réstia de remorso quando o alvo for atingido.
“De uma coisa eu tinha certeza:
Shaun me dava muito mais medo”. (p.101)
Como no recente A Garota do Trem (2015), de Paula
Hawkins, e em A Garota Exemplar (2012),
de Gillian Flynn, em Gelo Negro,
ninguém é o que parece ser. Existe a constante inclusão de novas informações
que redirecionam nossas opiniões sobre quem
é o quê ali. Enquanto isso, a neve cai, dificultando o deslocamento
quando decidem seguir caminho a pé.
A construção da personagem Britt é
um tanto interessante. Por apresentar uma narrativa em primeira pessoa, estamos
constantemente no interior de sua mente. Vemos os caminhos que esta nos
direciona, nos aponta como setas no meio da neve e nos induz a seguir.
Aos poucos, vemos um laço surgindo
entre Mason e ela. Um que, dentro daquele contexto, mostra-se imediatamente
absurdo. Dentro dos próprios questionamentos de Britt, encontramos as respostas
daquele pormenor inesperado. Encontramos a Síndrome de Estocolmo como resposta
aquele ponto que se desperta. Síndrome de Estocolmo é o
nome normalmente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa,
submetida a um tempo prolongado de intimidação ou sequestro, passa a ter
simpatia, e até mesmo sentimento de amor ou amizade, pelo seu agressor. Vemos
sua relutância constante em não aceitar aquilo. Assim, mais questionamentos
surgem.
Britt, como boa observadora sobre o
que a cerca, constantemente planeja, maquina, questiona, induz, deduz, e, nós,
como espectadores de uma cena que parece apresentar personagens que, a qualquer
momento farão bobagens e serão atingidos por balas certeiras, apenas
assistimos.
Ora torcemos que todos sejam
salvos…
Ora esperamos que Shaun finalmente
cumpra suas ameaças!
… Então a narração gira novamente
como uma Roleta Russa, e alguém dispara.
Uma…
Duas…
Três vezes!
E entramos em choque sob o olhar de
Britt. Sobre o que ela presencia… Sobre o que ela toca, precisando segurar o
grito!
Mas, no entanto, não existem
momentos para lamentar e implorar por fôlegos extras. É quando Becca
Fitzpatrick nos empurra, junto com suas personagens para a revelação do que
aquilo tudo significa.
… A ira de Shaun...
...O sumiço de Calvin…
...Os silêncios de Mason…
… A inquietação de Korbie…
… As verdades que a própria Britt
não quer enxergar…
…
Gelo Negro mostrou-se uma boa leitura por apresentar estes
elos presentes em romances policias onde não há detetives: a constante presença
da dúvida.
Somos Britt a todo momento…
Quando questionamos sobre o que
existe dentro da caixa na dispensa…
Sobre o que acontecerá com o Guarda
Florestal, caso ela grite…
O que farão com ela, quando, enfim,
saírem da montanha…
O que farão com ela, caso
descubram, que ela carrega um mapa detalhado de tudo no bolso traseiro da calça
umedecida…
Se existe uma relação entre os dois
e as mulheres assassinadas no último ano…
Porém, nestas luta por
sobrevivência, aos poucos, vamos entendendo uma verdade absoluta sobre Britt:
Se, no fim de toda história é o
gato quem sempre mata, ela sabe exatamente qual personagem será capaz de ser
quando o fim daquela montanha se aproximar…
Por Luvanor N. Alves
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