NOTURNO, de Guillermo Del Toro e Chuck Hogan

Há, em uma noite, em Manhattan, nos E.U.A

 Um avião pousando, vindo de Berlim;
Um cientista encontrando todos os seus passageiros mortos;
Um vampiro ancestral cruzando o oceano com bastante sede.

E a ameaça provavelmente inevitável da extinção humana.

Creio que somente na época dos mitos gregos, romanos e nórdicos, buscou-se tanto tornar evidente o misticismo que figuras como lobisomens, vampiros e zumbis entoam sobre aqueles que deles acreditam. Agora, lavados por uma camada densa de contextualização, temos estas figuras como anti-heróis na narrativa, muitas vezes tomando o lugar de protagonistas, encarnando a ideia do “mocinho”, sendo visto por outra perspectiva.
Este NÂO é o caso de Noturno (2009)!
Tomado pelo punho narrativo de um thriller de horror, o livro transcorre sobre as primeiras noites em que um vampiro diabólico cruza o oceano em um Boeing 777. Instantes após seu pouso, a torre de comando perde a comunicação com a aeronave e ninguém desembarca. A aeronave descansa no mais absoluto silêncio…
Temendo a possibilidade de um ataque biológico, o Centro de Controle de Doenças envia o Dr. Eph Goodweather. Equipado, este adentra o avião…
… Descobrindo que todos os mais de 200 passageiros estão mortos!
… Com exceção de 4 sobreviventes...

Com o fim da primeira noite, os quatro se transformam...
… Todos os mortos se levantam nos necrotérios de Manhattan e voltam para suas casas...
… E um vampiro agora se esgueira pelas ruas se alimentando...
… Lentamente...
… Ganhando força...
… Ganhando uma luta que os humanos nem ao menos sabem que estão enfrentando...

Dividido em três romances, NoturnoA Queda (2010) e Noite Eterna (2011), chamados também de Trilogia da Escuridão, este está longe de ser um livro “mamão com açúcar” sobre vampiros e seu desejo de se sobrepor a raça humana. Por mais que seja clichê esta abordagem de luta entre o Bem contra o Mal, digo que Noturno é diferente pelo desenrolar da história, às vezes com um caminho óbvio, mas que apresenta um requinte de frieza e crueldade que remete muito às narrativas latino-americanas. Isso se deve ao seu autor: Guillermo Del Toro. Quem assistiu a um de seus filmes, O Labirinto do Fauno (2006), vai entender sobre o que falo. Existem diversas preocupações que um autor tem ao contar sua história. Uma delas seria o preciosismo com o qual ele “segura” suas personagens, quase como se estas fossem cristais que, se manuseados erroneamente, irão se quebrar. Neste, vemos que Toro e Chuck Hogan, o outro autor do livro, desliza sobre a narrativa com um enfoque quase jornalístico: relatando, apenas! Nesse ponto que vemos suas personagens sendo mortas uma atrás da outra. Eliminadas como peças sobre um tampo de tabuleiro, apenas porque é preciso fazer isso para se chegar ao final.
Reclama-se muito sobre esta constância de detalhes na trilogia. Em parte concordo, pois em diversos momentos torna-se enfadonho seguir por estradas tão detalhas. Como leitores, muitas vezes queremos logo ver o caminho à frente, depois do morro; em parte discordo, pois esta abordagem nos aproxima da frieza e nos faz crer no que eles dizem.
Dentro deste cunho contextual, os autores decidiram (e aí aponto outra coisa interessante na trama) apontar e justificar a metamorfose do humano em vampiro pelo viés científico e biológico. Não raras são as passagens em que se explica pela abordagem de propagação de um vírus que precisa ser combatido.  Abordagem semelhante foi feita por Richard Matheson em Eu sou a Lenda (1954), com a tomada de uma descrição e fundamentação científica a fim de justificar as transformações sobre a espécie humana por meio de um vírus. No entanto, neste, vemos as consequências de um pós-apocalipse, enquanto em toda a Trilogia da Escuridão nos deparamos com o princípio desta tomada sobre a humanidade, direcionando toda a trama para um provável extermínio.

Nesse, temos um vampiro mal. Mal mesmo! Mal no estilo: “se você ficar, será a última coisa que fará em sua vida!”
Ou, como esclarece uma das personagens:

“Vocês também acharam difícil aceitar isso. Mas para eles nós não somos inimigos. Não somos adversários dignos. Aos olhos deles, nem mesmo chegamos a esse nível. Para eles, somo apenas presas. Alimento e bebida. Animais num cercado. Garrafas numa prateleira.” (p.250)

O livro inspirou a série The Strain (2014), da FX, mas esta também não parece ter agradado muito seus espectadores que estão cansados de tramas que, muitas vezes, podem tentar te fazer de bobo. O problema disso é justamente quando você percebe estas intensões sórdidas.
NO fim, recomendo Noturno pelas cenas emblemáticas como

… A garotinha escancarando a boca...
… O velho com a espada degolando vampiros…
… O cadáver nu no meio da madrugada encarando através da janela…
… A mulher com o facão em direção ao marido “dormindo”...

E mais...
mais... 
mais...

O livro vale a pena por poder ver até onde um autor pode te levar...

E ver se você vai querer continuar ao lado dele na próxima empreitada em busca de um vampiro que só cresce... 


por Luvanor N. Alves
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