EU SEI QUE VOU TE AMAR, de Arnaldo Jabor

Há...
Uma mulher esperando Vê-lo...
Um homem esperando Vê-la...
Um encontro de um ex-casal que tem muito a desabafar.

E se machucar!

As grandes respostas que explicas os porquês dentro de um relacionamento só podem ser dadas, depois de avariar os estragos causos e sentidos, somente com o seu término? Sempre existe aquele receio de encontrar o passado, encontrar aquele que mais nos feriu, sentar um em frente ao outro, e apenas falar... Desabafar... Desenterrar até mesmo aqueles corpos que mais odiamos.
É necessário um ponto de maturidade, uma linha tênue mínima (o quanto mais densa melhor!) para que este encontro  - leia-se confronto – não se transforme em mais feridas descascadas... Sopradas... E repletas de densas massas de sangue que não se estancará jamais depois daquele momento.
O embalo da dança que induz o romance de Arnaldo Jabor, Eu Sei que Vou te Amar (2007), é um tango repleto de tapas e lágrimas derramadas em palavras. Nele, conhecemos o casal que decide se encontrar meses depois do término do relacionamento, julgando-se cientes e seguros deste encontro, seguros de que, todas as dores, todas as brigas e as pancadas, fazem agora parte de duas pessoas distantes que já não existem mais. No entanto, o que eles não esperavam – e nós, leitores, muito mesmo àquele primeiro momento! – é que este encontro se transforme em uma encenação teatral grega, repleta de dramas e máscaras que só caem à medida que as horas passam e os ânimos se adensam.
Temos, então, a retomada eterna das discussões de casais que, mesmo não estando juntos, possuem muito o que falar, expor o que foi engasgado ao longo de todo o tempo em que estiveram – em tese – um ao lado do outro.
A fim de explicar seu livro, Jabor introduz:

Em geral, os filmes saem dos livros. Este livro saiu de um filme. Não é o roteiro, mas um breve romance.”
Há vinte anos Eu Sei que Vou te Amar foi visto por mais de 4 milhões de pessoas, ganhou Palma de Ouro para a Fernandinha (Fernanda Torres) e virou meio cult para jovens, ávidos por entender esse mistério de amor e sexo.”

O livro é essa densa marcação do sexo e tem neste fator seu principal ponto propulsor. O questionamento eterno em se conhecer o sexo oposto. A narrativa intercala-se em tomos: ora temos a narração feita por Ele, ora tomamos os pensamento e sensações Dela. A identidade de ambos é uma incógnita que não nos interessa revelar. O propósito, creio, tenha sido para que justamente nos espelhemos neste casal que mais briga do que se toca.
Eu Sei que Vou te Amar é um pleno ritual de acasalamento entre duas feras que buscam ser o Alpha da relação, busca gritar e brandir verdades mais fortes e altas do que o outro.
O amor por certo é um jogo do qual você deseja que o outro não entenda os porquês dos seus movimentos. Seja no ritual dela enquanto se aprontava para o encontro com o ex, escolhendo o melhor vestido, a calcinha mais provocante que se anuviasse e induzisse suas marcas por baixo da seda da roupa... Bem como as interrogações dele sobre o mistério que a mulher diante de si guarda:

Você é um ponto de interrogação, uma janela aberta para o ar, um copo de veneno, você é o meu medo, o mar fica em ressaca, fico à beira do riso e das lágrimas, perto do céu e perto do crime, um relógio de briga começa a contar os segundos da luta, uma multidão de fantasmas de terno e gravata me assiste com o coração sangrando, perco o controle e entramos os dois num barco em alto-mar, à deriva... (p. 14)

Pela perspectiva dele, entendemos logo que tudo foi um barco em fuga rumando em direção à tempestade, onde não havia a menor possibilidade de restarem sobreviventes daquele encontro.
Mas, mesmo assim, Ela possuía outras idealizações para aquele encontro:

 (…) Sei que você é um covarde, mas mesmo assim... Desde menina você já existia como uma nuvem no ar e subo confusa as escadas e entro em tua casa louca para procurar os vestígios das outras mulheres que te frequentam... (p. 15)

E nenhuma mentira ou medo se sustenta mais diante do ex. Não há mais laço algum que nos obrigue a mentir, esconder.

 (…)
- Com quem você transou quando estava comigo?
- Eu?
- É, você...
- Bem, eu transei com uma turista canadense em São Paulo, que falava inglês, mas gozava em francês... Uma vendedora de enciclopédia (…), duas mulheres de fim de noite, um travesti...
- Um travesti?
- É, só descobri no quarto, e também...
- Quem?
- Sua prima Jacira de porre em pé no banheiro (…)
- E depois?
- Depois... Depois... Bem... Deixa eu ver... bem... umas 27 mulheres...
- Quantas?
- Vinte e sete. (p. 23-24)

Até que o relacionamento, o ponto de união, torna-se ímã com polaridades que só distanciam aqueles que dali respiram. É quando as respostas das falhas não estão mais ali dentro:

- (…) a única maneira era eu me salvar de você...
- De mim?...
- Me salvar de você... a noite em que eu cheguei em casa e você deitada assim na cama, nua, às quatro da manhã, depois de eu te procurar em todos os bares... Eu parecia uma mulher e você o homem, mau, entende?... E você, deitada na cama, abriu as pernas e disse que amava outro cara... (p. 26)

Até que usam o amor como causador da distância:

- Hoje eu sei disso... mas aconteceu alguma coisa na nossa vida que as almas se misturaram... a gente não pode ficar junto porque morre... morre a vida, morre tudo... só fica a gente... eu me separei de você porque te amava demais. (p. 28)

…Inflando os ânimos novamente, à beira da raiva:

Eu sabia que você não aguentava!... É impressionante como esse cara não aguenta ser amado!... Agora quando eu falei um pouco de verdade... de emoção... “aceita um drinque?”! Que drinque? Cara... tu é barman, que drinque? Só se for coquitel das minhas lágrimas com tua hipocrisia! (p. 45)

… É quando o encontro, que decidem ambos, jamais deveria ter acontecido, entra por um caminho comum aos que bebem: a lamentação!

É tão triste... é tão triste a gente se separar... Você deixou um pijama velho no armário e eu nem tirei de lá... De noite eu vou lá espiar, virou um vício secreto... às vezes de madrugada eu vou lá olhar o pijaminha... seu pijaminha... olho e parece... que você morreu!... Como é difícil... não chora você também!... (p. 57)

O livro corre por outras águas e tudo fica difícil. Jabor buscou as verdades do que tentamos fugir enquanto amamos (ou fingimos amar). Verdades que falam mais sobre nós do que nós mesmos.

Eu Sei que Vou te Amar 
é um livro de verdades...
De mágoas...
De tristezas...

Eu Sei que vou te Amar 
é um livro daqueles que amam, mas não sabem com quais mãos e palavras devem amar.



Por Luvanor N. Alves 
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